
Indicado ao Jabuti, Festival Pernambucano de Literatura Negra realiza 5ª edição na Bienal de Pernambuco
Evento, que reúne dez escritoras negras, acontecerá neste sábado (4) e domingo (5), no Centro de Convenções de Olinda
O primeiro fim de semana de outubro abre espaço para um gesto inédito na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Pela primeira vez, o Festival Pernambucano de Literatura Negra integra a programação oficial do evento, ocupando o Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, nos dias sábado (4) e domingo (5). Criado pela jornalista e escritora Jaqueline Fraga, o festival chega à 5ª edição já consagrado como semifinalista do Prêmio Jabuti 2025 e leva ao público dez escritoras negras que, juntas, transformam a palavra em território político e estético. Este ano, o festival tem como tema “Mulheres negras no centro da literatura”. A programação completa está disponível no www.instagram.com/festivaldeliteraturanegra_pe/ e no site: negrasou.com.br/festival. Todas as atividades contarão com intérprete de Libras.
A curadoria de Odailta Alves, escritora e pesquisadora com longa atuação em práticas antirracistas, foi desenhada para que cada mesa dialogasse com um eixo da experiência negra na literatura. O resultado é um mosaico que articula tradição e juventude, periferia e sertão, poesia e música, construindo uma narrativa coletiva sobre o lugar da mulher negra na cena cultural brasileira. O evento conta com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura, promovido pela Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco.
O sábado começa com o Sarau Poético, no Palco Sesc Além das Letras. A presença de Inaldete Pinheiro, referência histórica e pioneira na poesia e na militância social, garante a ancoragem da ação em décadas de luta por cidadania e justiça. Ao seu redor, três vozes jovens ampliam o escopo. Joy Thamires traz a força de uma escrita que nasce das periferias e denuncia violências sem abrir mão da delicadeza dos afetos.
Nena Callejera, travesti e slammer, carrega a contundência da poesia que desafia normas de gênero e raça, inscrevendo no texto o corpo como fronteira política. Priscila Ferraz completa o sarau com sua experiência de arte-educadora, usando a poesia como ferramenta de emancipação. O momento, assim, não é apenas leitura de poemas, mas uma cartografia de resistências que atravessa gerações.
Mais tarde, no Espaço Conexão Petrobras, a mesa Escritoras Negras do Agreste ao Sertão Pernambucano desloca o olhar da capital para o interior. Manu Monteiro, psicóloga e multiartista, participa da conversa com uma literatura que busca cura e memória, revelando o corpo como espaço sagrado.
Do Sertão do Pajeú, Francisca Araújo traz consigo a cadência da glosa e do cordel, inscrevendo a oralidade popular na Bienal. Elke Falconiere, atriz e performer de Garanhuns, faz a mediação da mesa levando consigo a experiência de uma escrita independente em zines que abordam juventude e resistência. Essa mesa conecta diferentes territórios, mostrando que a literatura negra não se restringe ao urbano, mas se espalha por geografias e linguagens diversas.
No domingo, o Auditório Círculo das Ideias recebe a mesa Versos e músicas: mulheres negras que escrevem e cantam, que costura poesia e música. Bell Puã, poeta e cantora com trajetória internacional, é o um dos elos entre a palavra falada e a performance musical. Bione, que nasceu nos slams e cresceu nos palcos do rap, mostra como a literatura negra se reinventa em batidas e rimas.
A mediação será com Lenne Ferreira, jornalista e produtora cultural, que atua para evidenciar a importância de construir redes de fortalecimento para a cena. A mesa, então, torna-se um espaço de múltiplas linguagens, no qual a palavra é letra de música e poema, sempre atravessada pela mesma urgência de afirmar existências.
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