
Cirurgia para mudar cor dos olhos saudáveis traz riscos irreversíveis
Proibido no Brasil para fins estéticos, procedimento pode até comprometer a visão, segundo a oftalmologista, que é pioneira em tatuagem ocular em Pernambuco
A cirurgia para mudança da cor dos olhos, popularizada nas redes sociais e buscada por celebridades como Andressa Urach, pode parecer inofensiva, mas representa um risco elevado para a saúde ocular.
No Brasil, o procedimento é proibido para fins estéticos, e segundo a médica oftalmologista Manuela Tenório Cardoso, pioneira na técnica terapêutica de tatuagem ocular em Pernambuco, os danos podem ser irreversíveis.
“Não é como trocar uma prótese de mama por arrependimento. Não há volta. É uma decisão definitiva e com riscos futuros ainda desconhecidos”, alerta a especialista, que é do Hospital Santa Luzia.
A cirurgia só é indicada em casos muito específicos: quando o paciente já perdeu a visão e a cor natural da córnea, o que justifica o uso da técnica como alternativa terapêutica — uma forma de restaurar a aparência e, em muitos casos, a autoestima.
Do sonho à dor: quando a estética ultrapassa os limites da medicina
A influenciadora Andressa Urach, 37 anos, transformou o desejo de infância em uma realidade arriscada.
Após realizar a cirurgia fora do país, ela passou a sentir dores intensas nos olhos, fotofobia e lacrimejamento contínuo.
“Ela sequer sabia a que procedimento havia sido submetida e não seguiu nenhuma orientação no pós-operatório”, comenta Manuela, que enfatiza que a falta de cuidados pode agravar os sintomas e aumentar os riscos.
Entre as complicações mais comuns logo após a cirurgia estão vermelhidão ocular, dor, inflamação, alergia aos pigmentos, além de maior dificuldade para exames oftalmológicos e até futuras cirurgias, como a de catarata.
O pigmento inserido na córnea pode impedir a visibilidade necessária para intervenções ou diagnósticos de rotina.
E o arrependimento, tão comum em procedimentos estéticos, nesse caso é praticamente inútil. “O procedimento para mudar a cor dos olhos é irreversível até então”, explica a médica.
Alternativas seguras e uma questão de ética médica
Com tantos riscos e incertezas, a cirurgia estética para mudança da cor dos olhos não é reconhecida pela comunidade médica brasileira.
Segundo a oftalmologista, ela fere princípios da ética médica e não possui comprovação suficiente sobre sua segurança a longo prazo. Por isso, a prática segue proibida no país quando feita em pacientes com olhos saudáveis.
Cada país, no entanto, possui regulamentações diferentes sobre o uso de pigmentos e condutas médicas, o que explica por que algumas clínicas no exterior ainda oferecem esse tipo de intervenção.
“É um assunto polêmico e que requer cautela. O norte da Medicina deve ser sempre a evidência científica, a beneficência e a não maleficência”, observa Manuela, da equipe do Hospital Santa Luzia.
Para quem deseja mudar temporariamente a aparência dos olhos, a oftalmologista recomenda uma solução muito mais segura: as lentes de contato coloridas, que não oferecem riscos permanentes e podem ser retiradas a qualquer momento.



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