
Forró Mourisco lança EP com show inédito no Teatro Marco Camarotti
Evento acontecerá no dia 15 de junho unindo rabeca, oud, voz e exibição da videodança Longa Repentino, performance ao vivo e intervenções visuais
O Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, recebe no dia 15 de junho (domingo), às 18h, o show de lançamento do primeiro EP do Forró Mourisco, duo instrumental pernambucano que propõe uma travessia sonora entre o Nordeste brasileiro e o Norte da África. O espetáculo marca não apenas a estreia do álbum homônimo do grupo, mas também uma celebração do diálogo entre linguagens, territórios e ancestralidades invisibilizadas.
Formado em 2022 pelos músicos Rannier Venâncio (rabeca) e Rodrigo Gondão (oud), o Forró Mourisco se destaca por sua instrumentação incomum e por uma proposta estética que mistura pesquisa, tradição e experimentação. A rabeca — de origem árabe, mas consolidada como símbolo da música popular nordestina — encontra no oud (alaúde árabe, ancestral do violão) um parceiro de timbre e história. A união desses dois instrumentos cria uma sonoridade ímpar: entre o áspero e o aveludado, o cortante e o ondular, revelando heranças culturais comuns entre o Magrebe e o Sertão.
O EP “Forró Mourisco” — já disponível nas plataformas digitais — é o resultado do entrelaçamento de duas trajetórias artísticas que, embora distintas, se reconhecem em afinidade. De um lado, Rodrigo Gondão, que iniciou sua carreira como violonista e percussionista, há mais de 10 anos se dedica à pesquisa sobre a música moura e suas conexões com as tradições do Nordeste. De outro, Rannier Venâncio, rabequeiro, pesquisador e produtor cultural com mestrado em música pela UFPE, cuja atuação é profundamente vinculada às expressões populares como o cavalo marinho e o forró de rabeca.
A obra parte de estruturas tradicionais do forró — como o baião e o xote — e as tensiona com modulações microtonais, improviso livre e células rítmicas do universo árabe. Com três faixas, o EP se desdobra em paisagens sonoras que evocam tanto os terreiros de Pernambuco quanto o Norte da África.
A faixa “Longa Repentino” mistura o longa, estrutura tradicional árabe, ao baião de repente, fundindo temporalidades em um ciclo modal contínuo. Já a “Baianada Misturada” explora improvisações sobre o ritmo tradicional do interior de Alagoas, na família do baião, revelando uma encruzilhada sonora entre raízes nordestinas e claves mouras. E a música “Dia de João”, com participação da cantora e compositora Marília Parente, oferece uma releitura poética e potente de um baião escrito por ela aos 18 anos, evocando Exu e Luiz Gonzaga com uma energia que ela mesma define como “quase um forró punk”.
Do estúdio para a tela, o duo também investe na linguagem audiovisual. O clipe da versão instrumental de “Dia de João” foi gravado em plano-sequência e enfatiza a intensidade do encontro entre tradição e invenção. Já “Longa Repentino” ganhou recentemente uma versão em videodança com participação da performer Drica Ayub — resultado de um projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc. Esses lançamentos reforçam o caráter transdisciplinar do Forró Mourisco, que desde sua criação se articula com artistas de múltiplas linguagens — dança, literatura, audiovisual, artes visuais — em intercâmbios realizados nos territórios onde se apresenta.
Com uma trajetória que já passou por espaços como Casa Lontra, Casa Astral, Reduto Coletivo (Surubim), Kasa Ruta, Ateliê Valcira Santiago (Goiana), Teju Nazaré (Cabo de Santo Agostinho) e Poço das Artes, além de apresentações em Aracaju, o grupo se afirma como um projeto de investigação cultural e de construção de redes. A proposta vai além do palco: é um gesto de escuta, de escavação de memórias e de celebração das heranças invisíveis que compõem o Brasil profundo.
O show de lançamento conta com uma equipe criativa que amplia a experiência para o público. A direção geral é de Gondão e a direção musical de Venâncio. No palco, intervenções visuais da VJ Laís Fancello, fotografias de Ricardo Labastier, Heudes Regis e Nelson de Barros, e também desenhos ao vivo de Toni Braga, reforçam a atmosfera ritual e poética da apresentação. Tudo isso em diálogo com figurino assinado por Polly, fotos de divulgação de Sidarta e participação de artistas convidadas, exibição oficial da videodança “Longa Repentino” e performance ao vivo da artista da dança Drica Ayub.

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